quinta-feira, 31 de maio de 2012

Ajuda pelo toque das mãos


(Benzedeiras de duas cidades paranaenses têm suas atividades reconhecidas por leis municipais pioneiras no Brasil.)

A cura por métodos alheios à ciência é vista com ressalvas por médicos. 
“A segurança científica não pode ser deixada de lado”, lembra o oncologista e vice-presidente do Instituto Ciência e Fé, Cícero Urban. Ele ressalta que um tratamento tradicional não pode ser substituído pelo alternativo, proposto por curandeiros e benzedores. “A medicina não substitui o curandeiro nem o curandeiro substitui a medicina. Eu não digo para um paciente não procurar uma benzedeira, mas eu acho que ele precisa tomar cuidado, principalmente se quiser substituir um tratamento médico”, opina.
Para a psiquiatra e coordenadora regional no Paraná da Associação Brasileira de Medicina Psicossomática, Maria Lúcia Maranhão Bezerra, o que preocupa o médico é o atraso causado na busca pelo tratamento convencional provocado por quem é adepto de sessões de benzedeiras e curandeiros. “A tendência dos médicos é respeitar essa atividade, mas esperamos que nenhuma dessas práticas interfira na possibilidade de tratar o paciente a tempo de recuperar sua saúde”, afirma. (MGS) 

O ato de curar por meios não tradicionais é visto como um patrimônio imaterial da cultura brasileira pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) – ligado ao Ministério da Cultura. Porém, ainda não há registros oficiais da atividade no instituto. Conforme a assessoria de imprensa do órgão existem dois estudos em desenvolvimento para o reconhecimento das benzedeiras, um no Rio Grande do Norte e outro no Ceará.
No ano passado, o mapeamento das benzedeiras realizado pelo Movimento Aprendizes da Sabedoria (Masa), que originou as leis municipais em São João do Triunfo e Rebouças, conquistou o prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, que reconhece iniciativas de proteção, preservação e divulgação do patrimônio cultural brasileiro. (MGS)

Aos 75 anos, Eva Pinto Rebello não se intimida em limpar a casa, cortar lenha, cuidar da horta de ervas medicinais e ainda atender aos doentes que a procuram. No pequeno altar do quarto de casa, ela acende a vela, pega o rosário e um galho de arruda e começa as orações. O toque de suas mãos enrugadas já ajudou centenas de adultos e crianças nos últimos dez anos, quando começou a atividade de benzedeira.

Assim como dona Evi­­nha, como é chamada, existem 294 benzedeiras já identificadas no interior do Paraná. 
Vêm das cidades de Rebouças e São João do Triunfo, ambas no Centro-Sul do estado, as primeiras leis municipais de que se tem registro no Brasil para o reconhecimento da atividade das benzedeiras. 
Na região também foi criado o Movimento Aprendizes da Sabedoria (Masa). “O movimento serviu como uma ferramenta para a articulação das benzedeiras, que não se comunicavam entre si e se sentiam acuadas pelo preconceito contra a atividade”, comenta Taísa Lewitzki, uma das coordenadoras. 

A partir do mapeamento realizado pelo grupo foram identificadas 133 benzedeiras em Rebouças e 161 em São João do Triunfo. Em março de 2009, o estudo fundamentou a elaboração de uma lei na Câmara Municipal de Rebouças para o reconhecimento da atividade. Em fevereiro de 2012, o mesmo procedimento foi adotado em São João do Triunfo. 

Taísa lembra que as leis municipais são inéditas no Brasil. “Existem leis semelhantes que reconhecem a atividade das parteiras, mas, nesses moldes das leis das benzedeiras, o trabalho é inédito”, acrescenta. Na prática, as leis permitem que as benzedeiras, rezadeiras, curandeiras e costureiras de rendiduras (dores musculares) tenham acesso e manipulem ervas medicinais. Elas também podem contribuir com políticas de saúde pública.

No quintal da casa de dona Evinha existem, por exemplo, 16 tipos de ervas medicinais. “Eu dou um ramo para a pessoa que precisa e ensino como fazer o remédio”, diz. Ela aprendeu o ofício com a mãe e há dez anos pratica o benzimento. 

Há oito anos na atividade, a curandeira Alice Teixeira descobriu o dom quando impôs as mãos sobre o peito da filha de 2 anos que sofria de desmaios. “Um clarão entrou na janela do meu quarto e eu fui chamada a curar as pessoas em forma de retribuição pela saúde da minha filha”, completa. Ela afirma já ter curado pessoas com feridas graves e até recuperado quem estava em Unidade de Terapia Intensiva (UTI). 

Já Marta Drabeski, que está no ramo há 24 anos e é vereadora em São João do Triunfo, diz que desde a infância se sentia especial. “Mas eu tinha medo da minha mãe, que era luterana e não acreditava nas minhas visões.” Ela afirma ter visto aos 11 anos Nossa Senhora das Graças aos pés de sua cama, enquanto passava uns dias na casa da irmã mais velha. “A partir daí eu soube que tinha que curar as pessoas que precisavam.” 

A atividade é voluntária, mas a ajuda com alimento ou dinheiro não é negada por parte das curandeiras. “Quem quer e pode deixa um quilo de alimento”, comenta Alice, que vive de carpir quintal e colher maçãs. Dona Evinha, que é pensionista, também não cobra nada pelo serviço, mas aceita de bom grado os presentes que recebe. Ela mostra o velho guarda-roupas de duas portas cheio de fronhas e panos de pratos bordados, doados pelos pacientes e que ainda nem foram usados.

(Jornal Gazeta do Povo-PR)

quarta-feira, 30 de maio de 2012

(Res)pingos de luz


Minha vida é nada, um minuto apenas na sequência dos séculos. 
Mas a possibilidade de eu fazer este ou aquele gesto se prolonga até o fim dos tempos, com repercussão sobre todas as gerações vindouras. 
Isto constitui o valor de minha vida. O que a torna o bem mais precioso.
(André Bach)

[Retirado do caderno de anotações do Prof. Antônio Costa, nosso pai.]

terça-feira, 29 de maio de 2012

Cartas de amor para mim mesmo


X. Os nossos medos não existem. Nós não somos vítimas dos outros nem do mundo

Nada que possa ser poderá ser aniquilado e os nossos medos não existem.
Apenas aquele que em nós não é real produz pensamentos e sentimentos ilusórios, de medo, de carência, de solidão, de preocupação e de desespero.
Em nós esses pensamentos desaparecem dia-a-dia, quando pensamos e sentimos em Deus e através de Deus, pois Ele sempre foi o nosso maior refúgio e esse refúgio foi construído dentro de nós, esse templo onde descansamos e onde nos é dada a paz somente existe dentro de nós e apoia-se nos alicerces do nosso corpo e da nossa alma.
Nós podemos ver a luz e o amor em tudo o que existe e em tudo o que vemos e esse amor é nosso e de nosso Pai, porque nós e o meu Pai somos um só, uma só carne, um só corpo e um só espírito.
Nós não permitimos que pensamentos de negatividade cheguem em algum segundo à nossa morada interior e os pensamentos “negativos” que temos não são nossos, foram criados por erros e pelo nosso livre arbítrio, mas, no nosso interior sempre habitou Deus e tudo o que Lhe está associado e agora, neste instante sagrado, neste momento único e só, em que tudo existe, nós descobrimo-nos novamente e a nossa essência sagrada.
Neste instante que fazemos o que fazemos, apenas fazemos aquilo que fazemos e nada mais desejamos fazer.
(Um Tratado Completo de Liberdade – Joma Sipe)

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Luz da semana


As tensões não são causadas pelas pessoas, eventos, pressões ou ambientes, mas pela forma como respondemos a tudo isso. 
Para uma vida livre de tensão precisamos entender que não podemos controlar os outros. 
A única coisa que podemos controlar são nossos pensamentos, emoções e comportamento. Isso nos ajudará a aceitar as pessoas e situações como elas são e assim iremos parar de resistir ou controlá-las. 
Esse entendimento fará com que nossa atenção vá para onde a mudança realmente precisa acontecer – dentro de nós. 
Quando prestamos atenção no nosso crescimento pessoal e nos alimentamos com pensamentos positivos, sabedoria espiritual e meditação nos tornamos fortes o suficiente para enfrentar situações adversas com calma e sentimentos positivos.
(BK)

sábado, 26 de maio de 2012

Como me tornei louco


Aconteceu assim:
Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido,
despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas
– as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas –
e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente gritando:
“Ladrões, ladrões, malditos ladrões!”
Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim.
E quando cheguei à praça do mercado,
um garoto trepado no telhado de uma casa gritou:
“É um louco!”
Olhei para cima, para vê-lo.
O sol beijou pela primeira vez minha face nua.
Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua,
e minha alma inflamou-se de amor pelo sol,
e não desejei mais minhas máscaras.
E, como num transe, gritei:
“Benditos, benditos os ladrões que roubaram minhas máscaras!”
Assim me tornei louco.
E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura:
a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido,
pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós.

(Gibran Khalil Gibran)