Porque hoje é sábado
Não há guarda-chuva
contra o poema
subindo de regiões onde tudo é
surpresa
como uma flor mesmo num
canteiro.
Não há guarda-chuva
contra o amor
que mastiga e cospe como
qualquer boca,
que tritura como um desastre.
Não há guarda-chuva
contra o tédio:
o tédio das quatro paredes,
das quatro
estações, dos quatro pontos
cardeais.
Não há guarda-chuva
contra o mundo
cada dia devorado nos jornais
sob as espécies de papel e
tinta.
Não há guarda-chuva
contra o tempo,
rio fluindo sob a casa,
correnteza
carregando os dias, os
cabelos.
(João Cabral de Melo Neto)
Nenhum comentário:
Postar um comentário