Havia um rei que não gostava dos idosos.
Considerava que eles eram um estorvo ao país. Assim, assinou um decreto
determinando a deportação de todas as pessoas acima de 60 anos. E todo aquele
que descumprisse o decreto teria de sofrer severas punições.
Ocorre que um dos seus súditos não teve coragem de
mandar seu próprio pai embora e decidiu mantê-lo escondido, numa caverna
subterrânea, levando para ele, todos os dias, água e comida. O velho pai, que
era um homem sábio, passava o tempo de forma tranquila, lendo as escrituras
budistas.
Ao tomar conhecimento do decreto desumano do
malvado rei, o Imperador Sakra (o Rei do Céu no Budismo) decidiu enviar uma
mensagem ao rei. Esta mensagem continha uma lista de problemas que ele deveria
solucionar, sob pena de perder o reino para sempre. Os problemas eram:
O mensageiro do Céu colocou duas cobras em frente
ao Palácio e pediu ao Rei que distinguisse a cobra masculina da cobra feminina;
depois, ele deu um elefante ao Rei, pedindo-lhe que dissesse o seu peso; daí colocou uma tigela com água pura em frente ao Palácio e pediu ao Rei que
encontrasse outra tigela de água mais valiosa do que aquela; mostrou um pedaço
de sândalo e pediu ao Rei para definir onde está a cabeça e o fim daquela
madeira; por último, o mensageiro trouxe dois cavalos brancos idênticos, para que
o rei dissesse quem era a mãe entre os dois.
Imediatamente, o rei convocou todos os seus
oficiais, para ajudá-lo a solucionar os enigmas, mas nenhum deles foi capaz de
resolvê-los. Havia um prazo e o rei, preocupado, espalhou cartazes por todo o
reino, prometendo recompensas a quem o ajudasse a descobrir as respostas
certas.
No último dia do prazo, quando o próprio Imperador
Sakra apareceu para determinar o destino do rei, o súdito cujo pai idoso estava
escondido, apresentou-se e disse: Meu pai tem as soluções. Autorizado pelo
imperador, o velho homem aproximou-se.
Para distinguir a cobra masculina da feminina, o
homem sábio colocou-as num pedaço de tecido bem macio. Uma delas começou a se
mostrar incomodada e tentou escapar. Esta deve ser a cobra masculina. A
outra, que está quieta, é a feminina, disse o velho pai. Problema número
um resolvido.
Daí, o velho pediu que o elefante fosse conduzido
para dentro de um barco, num rio próximo. O barco afundou um pouco, mas
estabilizou-se. Ele fez uma marca da altura da água no lado do barco e deixou o
elefante sair dele. Em seguida, foi enchendo o barco de pedras até que elas
atingissem a marca feita anteriormente. Então, colocou as pedras na balança e
pôde, assim, determinar o peso do elefante. Segundo problema resolvido.
Para solucionar o problema da tigela de água, o
velho pai disse: Tudo o que tenho a fazer é pegar qualquer outra tigela
de água e dá-la a alguma pessoa sedenta, como um viajante num deserto, por
exemplo. Uma tigela de água que se usa para salvar uma vida é mais valiosa do
que uma tigela de água pousada no chão. O problema estava igualmente
resolvido.
Quanto ao pedaço de sândalo, o velho homem apenas
colocou-o na água. A cabeça, que por si é densa, submergiu; a ponta final, que
é leve, flutuou. Mais um problema solucionado.
Para resolver o último problema, o sábio homem
juntou algum feno de boa qualidade e colocou-o no chão, entre os dois cavalos.
Um deles chutou o feno para o outro e o deixou comer primeiro. Esta é a mãe!
– disse o velho.
Inteiramente satisfeito com as respostas, o
Imperador livrou o reino da destruição. O rei tornou-se iluminado e,
ajoelhando-se ante o Imperador, disse: Posso compreender agora todo o
sentido das provas a que meu reino foi submetido. Eu estava cego ao tentar
escorraçar meus velhos cidadãos. Peço que me perdoe e abro as portas do meu
reino para que todos os idosos voltem para suas casas!
O Imperador Sakra, satisfeito, retornou para o Céu.
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