sábado, 30 de abril de 2016

Porque hoje é sábado



Para chegares ao que não sabes,
Hás de ir por onde não sabes.
Para chegares ao que não gozas,
Hás de ir por onde não gozas.
Para vires ao que não possuis,
Hás de ir por onde não possuis.
Para vires a ser o que não és,
Hás de ir por onde não és.
Modo de possuir tudo
Para vires a saber tudo,
Não queiras saber coisa alguma.
Para vires a gozar tudo,
Não queiras gozar coisa alguma.
Para vires a possuir tudo,
Não queiras possuir coisa alguma.
Para vires a ser tudo,
Não queiras ser coisa alguma.
Modo para não impedir o tudo
Quando reparas em alguma coisa,
Deixas de arrojar-te ao tudo.
Porque para vires de todo ao tudo,
Hás de deixar de todo ao tudo.
E quando vieres a tudo ter,
Hás de tê-lo sem nada querer.
Porque se queres ter algo em tudo,
Não tens puro em Deus teu tesouro.
Indício de que se tem tudo
Nesta desnudez acha o espírito
sua quietação e descanso,
porque, nada cobiçando, nada
o impele para cima e nada
o oprime para baixo, porque
está no centro de sua humildade;
pois quando cobiça alguma coisa
nisto mesmo se fatiga.
(São João da Cruz)

sexta-feira, 29 de abril de 2016

Palavras






Enquanto você for gentil e tiver amor no seu coração, mil mãos virão naturalmente em seu auxílio.
Enquanto você for gentil e tiver amor no seu coração, você terá mil mãos para auxiliar outros.
(Kuan Yin)

Não são as circunstâncias que decidem a nossa vida



A nossa vida, como repertório de possibilidades, é magnífica, exuberante, superior a todas as historicamente conhecidas. Mas assim como o seu formato é maior, transbordou todos os caminhos, princípios, normas e ideais legados pela tradição. É mais vida que todas as vidas, e por isso mesmo mais problemática. Não pode orientar-se no pretérito. Tem de inventar o seu próprio destino.
Mas agora é preciso completar o diagnóstico. A vida, que é, antes de tudo, o que podemos ser, vida possível, é também, e por isso mesmo, decidir entre as possibilidades o que em efeito vamos ser. Circunstâncias e decisão são os dois elementos radicais de que se compõe a vida. A circunstância – as possibilidades – é o que da nossa vida nos é dado e imposto. Isso constitui o que chamamos o mundo. A vida não elege o seu mundo, mas viver é encontrar-se, imediatamente, em um mundo determinado e insubstituível: neste de agora. O nosso mundo é a dimensão de fatalidade que integra a nossa vida.
Mas esta fatalidade vital não se parece à mecânica. Não somos arremessados para a existência como a bala de um fuzil, cuja trajetória está absolutamente predeterminada. A fatalidade em que caímos ao cair neste mundo – o mundo é sempre este, este de agora – consiste em todo o contrário. Em vez de impor-nos uma trajetória, impõe-nos várias e, consequentemente, força-nos... a eleger. 
Surpreendente condição a da nossa vida! Viver é sentir-se fatalmente forçado a exercitar a liberdade, a decidir o que vamos ser neste mundo. Nem num só instante se deixa descansar a nossa atividade de decisão. Inclusive quando desesperados nos abandonamos ao que queira vir, decidimos não decidir.
É, pois, falso dizer que na vida «decidem as circunstâncias». Pelo contrário: as circunstâncias são o dilema, sempre novo, ante o qual temos de nos decidir. 
Mas quem decide é o nosso caráter.
(Ortega y Gasset)

quinta-feira, 28 de abril de 2016

Coisas d'alma





A memória guardará o que valer a pena. 
A memória sabe de mim mais que eu; e ela não perde o que merece ser salvo.
(Eduardo Galeano)

Contando um conto



Uma noite, um velho índio falou ao seu neto sobre o combate que acontece dentro das pessoas.

Ele disse:  Há uma batalha entre dois lobos que vivem dentro de todos nós.
Um é mau - É a raiva, inveja, ciúme, tristeza, desgosto, cobiça, arrogância, pena de si mesmo, culpa, ressentimento, inferioridade, orgulho falso, superioridade e ego.

O outro é bom - É alegria, fraternidade, paz, esperança, serenidade,humildade, bondade, benevolência, empatia, generosidade, verdade, compaixão e fé.

O neto pensou nessa luta e perguntou ao avô:  Qual lobo vence?

O velho índio respondeu: Aquele que você alimenta.

quarta-feira, 27 de abril de 2016

Um pouco de fermento



Ninguém vive só.
Nossa alma é sempre núcleo de influência para os demais.
Nossos atos possuem linguagem positiva.
Nossas palavras atuam a distância.
Achamo-nos magneticamente associados uns aos outros.
Ações e reações caracterizam-nos a marcha.
É preciso saber, portanto, que espécie de forças projetamos naqueles que nos cercam.
Nossa conduta é um livro aberto.
Quantos de nossos gestos insignificantes alcançam o próximo, gerando inesperadas resoluções.
Quantas frases, aparentemente inexpressivas, arrojadas de nossa boca, estabelecem grandes acontecimentos.
Cada dia, emitimos sugestões para o bem ou para o mal.
Dirigentes arrastam dirigidos, servos inspiram administradores.
Qual é o caminho que a nossa atitude está indicando?
Um pouco de fermento leveda a massa toda.
Não dispomos de recursos para analisar a extensão de nossa influência, mas podemos examinar-lhes a qualidade essencial.
Acautela-te pois, com o alimento invisível que forneces às vidas que te rodeiam.
Desdobra-se o destino em correntes de fluxo e refluxo. As forças que hoje se exteriorizam de nossa atividade voltarão ao centro de nossa atividade, amanhã.

(Francisco Cândido Xavier)

terça-feira, 26 de abril de 2016

Coisas d'alma



Nós sempre precisamos de amigos. 
Gente que seja capaz de nos indicar direções, despertar o que temos de melhor e ajudar a retirar os excessos que nos tornam pesados. 
É bom ter amigos. Eles são pontes que nos fazem chegar aos lugares mais distantes de nós mesmos.
(Pe. Fábio de Melo)

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Pensamentos daqui e dali



Acredito que a natureza humana é essencialmente amorosa e que quando não demonstramos isso é porque há nuvens muito espessas escondendo o nosso sol. 
Nuvens de medo, dor, raiva, confusão. Mas o sol está lá, preservado, o tempo todo. 
Em algumas pessoas, mais do que em outras, parece que as nuvens demoram muito tempo a se dissipar, é verdade. Às vezes, podem até não dissipar durante uma vida inteira, é verdade também. 
Mas, à medida em que começamos a abrir o nosso coração, é inevitável não sentir que ser amáveis e cuidadosos uns com os outros não é um favor, uma concessão. 
Inevitável não sentir que o gostinho bom de dar amor é tão saboroso quanto o de recebê-lo. 
(Ana Jácomo)

Luz da semana



A vida vai nos ensinando o quanto isso é verdade. 
Pais e filhos, irmãos, amigos e amantes podem conviver décadas a fio, podem ter uma relação intensa, podem se divertir juntos e sofrer juntos, ter gostos parecidos ou complementares, ser interessantes uns para os outros, superar grandes conflitos – mas persiste o lado avesso, o atrás da máscara, que nunca se expõe nem se dissipa.
Nem todos os mal-entendidos, mágoas e brigas se dão porque somos maus, mas por problemas de comunicação.
Porque até a morte nos conheceremos pouco, porque não sabemos como agir. Se nem sei direito quem sou, como conhecer melhor o outro, meu pai, meu filho, meu parceiro, meu amigo – e como agir direito?
Amor e amizade transitam entre esses dois "eus" que se relacionam em harmonia e conflito: afeto, generosidade, atenção, cuidados, desejo de partilhamento ou de vida em comum, vontade de fazer e ser um bem, e de obter do outro o que para a gente é um bem, o complicado respeito ao espaço do outro, formam um campo de batalha e uma ponte. 
Pontes podem ser precárias, estradas têm buracos, caminhos escondem armadilhas inconscientes que preparamos para nossos próprios passos em direção do outro. O que está mergulhado no inconsciente é nosso maior tesouro e o mais insidioso perigo.
Relacionar-se é uma aventura, fonte de alegria e risco de desgosto. 
Na relação defrontam-se personalidades, dialogam neuroses, esgrimem sonhos e reina o desejo de manipular disfarçado de delicadeza, necessidade ou até carinho. 
Difícil? Difícil sem dúvida, mas sem essa viagem emocional a existência é um deserto sem miragens.
No relacionamento amoroso, familiar ou amigo acredito que partilhar a vida com alguém que valha a pena é enriquecê-la; permanecer numa relação desgastada é suicídio emocional, é desperdício de vida. Entre fixar e romper, o conflito e o medo do erro.
Somos todos pobres humanos, somos todos frágeis e aflitos, todos precisamos amar e ser amados, mas às vezes laços inconscientes enredam nossos passos e fecham nosso coração. A balança tem de ser acionada: prevalecem conflitos ásperos e a hostilidade, ou a ternura e aqueles conflitos que ajudam a crescer e amar melhor, a se conhecer melhor e melhor enxergar o outro? O olhar precisa ser atento: mais coisas negativas ou mais gestos positivos? Mais alegria ou mais sofrimento? Mais esperança ou mais resignação?
Cabe a cada um de nós decidir, e isso exige autoexame, avaliação.
Seja como for, com alguma sorte e boa vontade a alma do outro pode também ser a doce fonte da vida.
(Lya Luft)

sábado, 23 de abril de 2016

Porque hoje é sábado




O sol nos fala com luz;
com cor e com perfume nos fala a flor;
com nuvens, chuva e neve nos fala o ar.
Há no sacrário do mundo
um incontido afã de romper
com a mudez das coisas e expor
em gesto e som, em palavra e cor,
todo o mistério que envolve o ser.
A clara fonte das artes flui
para a palavra, a revelação;
para o mental flui o mundo, e aclara
em lábio humano um saber eterno.
Pela linguagem a vida anseia:
em verbo, cifra, cor, linha som,
conjura-se a nossa aspiração
e um alto trono aos sentidos ergue.
Como na flor o vermelho e o azul,
na palavra do poeta volta-se
para dentro a obra de criação,
sempre a iniciar-se e acabar jamais.
Onde palavra e som se combinam,
e soa o canto, a arte se revela,
e cada cântico e cada livro,
cada imagem, é uma descoberta
- uma milésima tentativa
de cumprimento da vida una.
A penetrar nessa vida una
vos chama a música, a poesia:
para entender a criação vária,
já e bastante um olhar no espelho.
O que confuso antes parecia,
é claro e simples na poesia:
a nuvem chove, a flor ri, o mudo
fala - o mundo faz sentido em tudo.
(Hermann Hesse)

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Contando um conto



Um rico empresário estava prestes a se aposentar. Ele chamou seus dois filhos para falar sobre seus planos.
Vocês são bons filhos e homens capazes, disse. Eu não sei qual de vocês eu vou deixar responsável por toda a minha propriedade. Por isso, vou testá-los. 
Então, ele deu uma moeda para cada um dos filhos, dizendo: Peguem esta moeda e comprem algo que possa encher esta casa.
A moeda que o homem deu para os filhos era de pouco valor e sua casa era grande e cheia de aposentos. Ambos sabiam que seria uma tarefa  difícil.
O filho mais velho não perdeu tempo. Correu para o mercado e começou a pesquisar o preço de vários objetos. Ele decidiu que a maior quantidade de material que poderia comprar era palha. Assim, adquiriu o máximo de palha possível com a moeda e carregou um grande fardo para casa. Contudo, a palha cobriu apenas o chão da casa.
Já o filho mais novo parou para pensar no teste do pai. Ele sabia que apenas uma compra muito diferente passaria por sua prova. Quando voltou, ele carregava apenas um pequeno pacote.
Seu irmão riu: Você espera encher a casa com isto?, comentou, apontando para o pacote.
O filho mais novo não disse nada. Abriu o pacote e tirou algumas velas. Colocou uma vela em cada quarto.
Quando ele as acendeu, a casa inteira estava cheia... de luz!

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Coisas d'alma



Eu não sou otimista nem pessimista. 
Os otimistas são ingênuos e os pessimistas são amargos. 
Sou um realista esperançoso. 
Eu sou um homem de esperança. Sei que isso vai acontecer num futuro distante, mas eu sonho com um dia em que o sol de Deus vai trazer justiça para o mundo.
(Ariano Suassuna)

A eternidade é agora



Enquanto o mundo desaba ao redor de nós, estamos discutindo teorias e vãs questões políticas, e entretemo-nos com reformas superficiais. 
Não indicará esta atitude absoluta falta de compreensão da nossa parte? Alguns dirão que sim, mas continuarão a fazer exatamente a mesma coisa que sempre fizeram – essa é a tristeza da vida. 
Quando ouvimos uma verdade e não agimos logo, ela se transforma em veneno dentro de nós, e este veneno se espalha, gerando perturbações psicológicas, desequilíbrio e doença. Apenas ao despertar no indivíduo a inteligência criadora, existe a possibilidade de uma vida de paz e felicidade real.
Não podemos tornar-nos inteligentes apenas substituindo um governo por outro, um partido ou classe por outra, um explorador por outro. A revolução cruenta nunca resolverá nossos problemas. Só uma profunda revolução interior, que altere todos os nossos valores, pode criar um ambiente diferente, uma estrutura social inteligente; e uma revolução deste gênero só pode ser realizada por vós e por mim. Nenhuma ordem nova surgirá enquanto, individualmente, não derrubarmos nossas barreiras psicológicas e nos tornarmos livres.
Podemos traçar sobre o papel os planos de uma brilhante utopia individual ou coletiva, de um valoroso mundo novo, vida nova; mas o sacrifício do presente a um futuro desconhecido não resolverá, por certo, nenhum dos nossos problemas. São tantos os elementos que intervem entre o agora e o futuro, que ninguém pode prever como ele será.
O que podemos e devemos fazer, se estamos interessados em nossas vidas, é atirar-nos imediatamente aos nossos problemas e não adiá-los para o porvir. 
A eternidade não está no futuro; a eternidade é agora. Nossos problemas estão no presente e só no presente podem ter solução.
Se temos verdadeiro interesse, devemos regenerar-nos; mas só haverá regeneração quando nos libertarmos dos valores que criamos com os nossos desejos agressivos de autoproteção. O autoconhecimento é o começo da liberdade, e só quando nos conhecermos a nós mesmos faremos nascer a ordem e a paz.
Aqui, perguntarão alguns: “Que pode fazer um só indivíduo, de efeito, na história? Pode realizar alguma coisa importante com sua maneira de viver?” 
Pode, indubitavelmente. 
Vós e eu não podemos, é verdade, sustar as guerras imediatas ou criar uma instantânea compreensão entre grupos, movimentos, nações; mas podemos suscitar, no mundo de nossas relações diárias, uma básica e efetiva transformação.
O esclarecimento individual pode de fato influir em grandes coletividades, desde que o indivíduo não esteja ansioso pelos resultados. Quando só pensamos em ganhos e resultados, a verdadeira transformação é impossível.
Os problemas humanos não são simples, mas extremamente complexos. Para compreendê-los é preciso paciência e discernimento, e é de suma importância que nós, como indivíduos, os resolvamos por nós mesmos. Eles não podem ser compreendidos com o auxílio de fórmulas cômodas ou de slogans; nem tampouco ser resolvidos nos seus respectivos níveis especialistas, os quais, seguindo sempre determinada linha de ação, criarão por certo mais confusão e misérias.
Nossos inúmeros problemas só serão compreendidos e solucionados,quando estivermos conscios de nós mesmos como um processo total, isto é, ao compreendermos toda a nossa estrutura psíquica; nenhum guia político, religioso pode dar-nos a chave dessa compreensão.

(Krishnamurti)

terça-feira, 19 de abril de 2016

Entre aspas



Quando o português chegou
Debaixo duma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português
(Oswald de Andrade)

Pensamentos daqui e dali




Às vezes, quando vemos por demais a verdade sobre nós mesmos, repentinamente refletida à nossa frente pelo mestre ou pelos ensinamentos, é difícil encarar, terrível de reconhecer, doloroso demais de aceitar como a realidade sobre nós.
Negamos e rejeitamos, numa tentativa absurda e desesperada de nos defendermos de nós mesmos, da verdade de quem realmente somos.
E quando há coisas por demais poderosas ou difíceis de aceitar nós as projetamos no mundo ao nosso redor, geralmente naqueles que mais nos amam e nos ajudam - nosso mestre, os ensinamentos, nosso parente, ou nosso melhor amigo.
Como podemos penetrar no rígido escudo deste sistema defensivo?
A melhor solução é reconhecer que vivemos envolvidos por nossas próprias ilusões. Para muitas pessoas, uma faísca da verdade pode deitar por terra toda a construção fantástica de visões errôneas, fabricadas pela ignorância.
(Sogyal Rinpoche)

sábado, 16 de abril de 2016

Porque hoje é sábado



Quem dera eu achasse um jeito
de fazer tudo perfeito,
feita a coisa fosse o projeto
e tudo já nascesse satisfeito.
Quem dera eu visse o outro lado,
o lado de lá, lado meio,
onde o triângulo é quadrado
e o torto parece direito.
Quem dera um ângulo reto.
Já começo a ficar cheio
de não saber quando eu falto,
de ser, mim, sujeito indireto.

(Paulo Leminski)

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Palavras






O sopro da esperança
talvez não dure.
O sopro da promessa
talvez não dure.
Mas o sopro da
doação de si mesmo
dura para sempre.

(Sri Chinmoy)

Bom ou mau?



Tanto os meus fracassos quanto as minhas vitórias duraram pouco. 
Não há nenhuma vitória profissional ou amorosa que garanta que a vida finalmente se arranjou e nenhuma derrota que seja uma condenação final. 
As vitórias se desfazem como castelos de areia atingidos pelas ondas, e as derrotas se transformam em momentos que prenunciam um começo novo. 
Enquanto a morte não nos tocar, pois só ela é definitiva, a sabedoria nos diz que vivemos sempre à mercê do imprevisível dos acidentes. 
Se é bom ou se é mau, só o futuro dirá.
(Rubem Alves)

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Contando um conto



Todos os dias, uma formiga chegava cedinho ao escritório e pegava duro no trabalho. A formiga era produtiva e feliz.
O gerente marimbondo estranhou a formiga trabalhar sem supervisão. Se ela era produtiva sem supervisão, seria ainda mais se fosse supervisionada. E colocou uma barata, que preparava belíssimos relatórios e tinha muita experiência, como supervisora.
A primeira preocupação da barata foi a de padronizar o horário de entrada e saída da formiga.
Logo, a barata precisou de uma secretária para ajudar a preparar os relatórios e contratou também uma aranha para organizar os arquivos e controlar as ligações telefônicas.
O marimbondo ficou encantado com os relatórios da barata e pediu também gráficos com indicadores e análise das tendências que eram mostradas em reuniões.
A barata, então, contratou uma mosca, e comprou um computador com impressora colorida.
Logo, a formiga produtiva e feliz, começou a se lamentar de toda aquela movimentação de papéis e reuniões!
O marimbondo concluiu que era o momento de criar a função de gestor para a área onde a formiga produtiva e feliz, trabalhava. O cargo foi dado a uma cigarra, que mandou colocar carpete no seu escritório e comprar uma cadeira especial...
A nova gestora cigarra logo precisou de um computador e de uma assistente, a pulga (sua assistente na empresa anterior),  para ajudá-la a preparar um plano estratégico de melhorias e um controle do orçamento para a área onde trabalhava a formiga, que já não cantarolava mais e cada dia se tornava mais chateada.
A cigarra, então, convenceu o gerente marimbondo, que era preciso fazer uma pesquisa de clima. Mas, o marimbondo, ao rever as finanças, se deu conta de que a unidade na qual a formiga trabalhava já não rendia como antes e contratou a coruja, uma prestigiada consultora, muito famosa, para que fizesse um diagnóstico da situação.
A coruja permaneceu três meses nos escritórios e emitiu um volumoso relatório, com vários volumes que concluía: Há muita gente nesta empresa!
E adivinha quem o marimbondo mandou demitir?
A formiga, claro, porque ela andava muito desmotivada e aborrecida.