sexta-feira, 12 de abril de 2013

O querer de Deus



Quanto mais alguma coisa é semelhante a Deus em vários aspectos, tanto mais perfeitamente se aproxima a sua semelhança. Ora, em Deus existe a bondade e a difusão da bondade a outros. E, assim, a perfeição da coisa criada se assemelha mais a Deus, não somente se for boa, mas se também puder agir para o bem de outros. Assim, é mais semelhante ao sol o que dá a luz e ilumina, do que aquilo que só tem luz. Ora, a criatura não pode fazer o bem para outra, a não ser que dentre as coisas criadas exista pluralidade e desigualdade. O agente é diferente do paciente e, mais nobre. Assim foi oportuno, para que houvesse uma perfeita imitação de Deus, que houvesse diversos graus nas criaturas. A existência de muitos bens finitos é melhor do que um só bem finito, pois eles possuem o bem deste e, ainda mais. Mas toda bondade da criatura é finita e fica aquém  diante da infinita bondade de Deus. Assim é mais perfeito o universo criado com vários graus de coisas, do que com um só. Ora, ao Sumo Bem compete fazer o que é melhor e, assim, foi-Lhe conveniente fazer vários graus de criaturas.
A bondade da espécie supera a bondade do indivíduo, como o formal supera o material. Assim, mais contribui para a bondade do universo, a multiplicidade de espécies que a multiplicidade de indivíduos de uma mesma espécie. É assim pertinente a perfeição do universo, não somente que existam muitos indivíduos, mas também o fato de haver diversas espécies e, em conseqüência, diversos graus nas coisas criadas.
Todo aquele que age pelo intelecto, representa a espécie do seu intelecto na sua obra, assim como o artista faz algo parecido a ele. Deus ao fazer as criaturas atuou pelo intelecto e não por necessidade da natureza. Portanto a idéia do entendimento divino está plasmada na criatura que Ele fez. Mas como o intelecto que entende muitas coisas não pode ser representado suficientemente por uma só, o intelecto divino se representa mais perfeitamente produzindo muitas coisas do que se produzisse uma só.
Não deve faltar na obra de um sumo e bom artífice a máxima perfeição. Assim como o bem da ordem de diversos seres é melhor que o bem de um só, por ser o elemento formal relativo aos entes singulares como a perfeição do todo a suas partes, não devia faltar o bem da ordem na obra de Deus. Mas este não poderia dar-se, sem a diversidade e desigualdade das criaturas.
É assim que a diversidade e desigualdade das coisas não procedem do acaso, nem da diversidade da matéria, nem pela própria intervenção de algumas causas ou méritos, mas do próprio querer de Deus, que quis dar às criaturas a perfeição que elas podem ter.
Assim foi dito (Gen. 1, 31) “Deus viu que tudo que havia feito era muito bom”, mas de cada coisa singular diz apenas que é boa. Porque cada coisa em si possui uma natureza boa, mas todas juntas são muito boas para a ordem do universo, que é a última e mais nobre perfeição das coisas.
(São Tomás de Aquino)

Um comentário:

  1. Olá Luiza e Lúcia!
    Todo homem, todo ser é um querer de Deus e faz parte dos planos de Deus...
    http://jefhcardoso.blogspot.com lhes convidam e espera para lerem e comentarem “Agda e os meninos sem rosto”. Abraço e bom final de semana.


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