terça-feira, 20 de setembro de 2011

Ave-maria do peão


Ao reponte do sol que descamba,
no dia se aprochega para o arremate
pelos campos e nos matos da querência,
no revoar da bicharada voltando ao ninho,
é hora de recolhimento.

No rancho que há no interior
de mim mesmo
eu, gaúcho de fé,
me arrincono e medito.

Despindo o poncho da vaidade
e do orgulho
tiro o chapéu, apago o pito
e me achego pra uma prosa
com o patrão maior.

Na sua presença
meu sangue quente de farrapo
se faz manso caudal,
entrego-lhe minha alma
afoita de alcançar lonjuras
e abrir cancha
em busca do destino,
renuncio à minha xucra rebeldia
me faço doce de volta
e macio de tranco
para dizer-lhe:

Gracias patrão,
por tudo que me deste,
por esta querência Senhor,
que meus ancestrais regaram
com seu sangue
e que aprendi a amar desde piá.

Pelos meus parceiros
nessa ronda da vida,
sempre de prontidão para
me amadrinharem na
campereada mais custosa
ou para matearem comigo
na hora do sossego.

Reparte com eles, patrão,
esta fé que me deste
e este orgulho pela minha
querência.

Ajuda patrão
a manter acessa esta chama,
concede sempre ao gaúcho
a força no braço
e o tino pra saber o que
é correto.

Dá-nos consciência
para preservar a nossa cultura
livre da invasão dos modismos
conserva a essência e a beleza
da nossa tradição. [...]
 (Odilon Ramos)

Nenhum comentário:

Postar um comentário