sexta-feira, 26 de agosto de 2011

A busca


Longamente peregrinei através de muitas vidas por muitas terras, entre muitos povos em busca da meta que não conhecia.
Carreguei o pesado fardo de muitas posses, das riquezas do mundo, dos confortos que fazem a estagnação.
Prostrei-me ante os altares dos santuários que encontrei à margem da estrada e os deuses  me recusaram a meta que pretendia.

E,  na magia das palavras e na embriaguez do incenso,  permaneci abrigado nas sombras entre as paredes do templo.
Criei filosofias e credos, complicadas teorias de vida.
Entranhei-me das criações intelectuais do homem com elas me engrandeci em arrogância.
E, tão súbito quanto a tempestade desaba, vi-me nu, esmagado pela agonia de coisas transitórias.
E como as terras do deserto sem sombras assim se tornou minha vida.
Vi e me ouvi eremita.
Livra-te do veneno do preconceito que corrompe tua verdade porque és imenso em teus preconceitos, tanto velhos quanto novos.
Livra-te da estreiteza de tuas tradições, convenções, hábitos, sentimentos de posse.
Como o homem que não tem ouvidos, és surdo para a música melodiosa.
Como o homem que não tem olhos, és cego para o esplendor do crepúsculo.
Como o mergulhador que desce ao fundo do mar arriscando a vida pelo gozo transitório, deves tu também penetrar fundo em ti mesmo.
Como o audaz alpinista que conquista os altos cumes, deves tu também ascender àquela altura vertiginosa, de onde todas as coisas são vistas em suas verdadeiras proporções.
Como o lótus que, rompendo o lodo, ao céu se eleva deves tu também arredar todas as coisas transitórias se queres descobrir tua força oculta para enfrentar as viscitudes do mundo.
Como a rápida corrente conhece sua nascente, deves tu também conhecer teu próprio Ser.
Como a trilha tortuosa da montanha, descortina a cada instante vistas novas, assim também em ti há uma revelação constante a cada experiência de encontro.
Como o mar encerra uma multidão de seres vivos, em ti fazem ocultos segredos de todos os mundos.
Como a flor que desabrocha à branda luz do sol, deves tu te abrir, se te queres conhecer.
Perscruta tuas próprias profundezas com os olhos límpidos se queres perceber todas as coisas.
Como o lago tranqüilo que reflete o céu, assim deverão os homens e as coisas em ti se refletir.
E como o rio misterioso que no largo mar se lança adentro me lancei no mar da libertação.
 (Krishnamurti)

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