Seja qual for o
nome que nos damos, sejam quais forem as roupas que vistamos, seja qual for o
padre que nos dê a unção, seja qual for a quantidade de nossos milhões, seja
qual for o número de sentinelas a postos em nosso caminho, seja qual for o
número dos policiais encarregados de proteger nossa riqueza, seja qual for o
número dos supostos malfeitores, revolucionários ou anarquistas que condenamos
à morte, sejam quais forem nossos gestos, seja qual for o estado que fundamos,
as fortalezas e as torres que erguemos, da torre de Babel à torre Eiffel — duas
condições inevitáveis estão sempre a nossa frente e eliminam por completo o
sentido da vida: primeiro, a morte, que pode nos atingir a qualquer instante;
segundo, a fragilidade de todas nossas obras que desaparecem depressa demais e
sem deixar rastro algum.
Façamos o que
fizermos: quer ergamos palácios e monumentos, quer escrevamos poemas e cantos,
nada disso dura por muito tempo, tudo passa sem deixar vestígio algum.
Por isso, embora o
escondamos cuidadosamente de nós mesmos, podemos ver que o sentido de nossa
vida não pode residir nem em nossa existência material, sujeita a sofrimentos
inevitáveis e à morte, nem em qualquer instituição ou ordem social.
Quem quer
que sejas tu que lês estas linhas, pensa na tua situação e em teus deveres, não
em tua situação de proprietário, de negociante, de juiz, de rei, de presidente,
de ministro, de padre, de soldado, que te dão provisoriamente os homens, e não
nos deveres imaginários que essa situação te cria, mas na situação verdadeira,
eterna, do ser que, por vontade de Alguém, após toda uma eternidade de
não-existência, saiu da inconsciência, e que pode a qualquer instante, pela
mesma vontade, a ela retornar; e pensa em teus verdadeiros deveres que resultam
de tua verdadeira situação de ser chamado à vida e dotado de inteligência e de
amor.
(Leon Tolstói)
Nenhum comentário:
Postar um comentário