quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Contando um conto



Um homem foi perguntado  sobre quanto trabalho dizia ter se vivia na solidão.
- Tenho que domar dois falcões, treinar duas águias, manter quietos dois coelhos, vigiar uma serpente, carregar um asno e domar um leão.
- Não vemos nenhum animal onde vives. Onde estão?
Ele então explicou:
- Estes animais todos os homens têm...
Os dois falcões se lançam sobre tudo o que aparece, seja bom ou mau. Tenho que domá-los para que só se fixem sobre uma boa presa.
São os meus olhos.
As duas águias ferem e destroçam com suas garras. Tenho que treiná-las para que sejam úteis e ajudem sem ferir.
São minhas mãos.
Os dois coelhos querem ir onde lhes agrada, fugindo dos demais e esquivando-se das dificuldades.Tenho que ensinar-lhes a ficarem quietos mesmo que seja penoso, problemático ou desagradável.
São meus pés.
O mais difícil é vigiar a serpente, apesar dela estar presa numa jaula, está sempre pronta para morder e envenenar os que a rodeiam, mal se abre a jaula. Se não a vigio de perto, causa danos.
É minha língua.
O burro é muito obstinado, não quer cumprir com suas obrigações. Alega estar cansado e se recusa a transportar a carga de cada dia.
É meu corpo.
Finalmente, preciso domar o leão. Quer ser o rei, o mais importante; é vaidoso e orgulhoso.
Ele está em meu coração.
Sempre alerta devo estar.

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Contando um conto

O Sol e o Vento discutiam sobre qual dos dois era mais forte.
O Vento disse: Provarei que sou o mais forte. Vê aquele velho que vem lá em baixo com um capote? Aposto como posso fazer com que ele tire o capote mais depressa do que você.
O Sol, então, recolheu-se atrás de uma nuvem e o Vento soprou até quase se tornar um furacão, mas, quanto mais ele soprava, mais o velho segurava o capote junto a si. Finalmente o Vento acalmou-se e desistiu de soprar.
O Sol saiu de trás da nuvem e sorriu bondosamente para o velho. Imediatamente ele esfregou o rosto e tirou o capote.
O Sol disse, então, ao vento:
A gentileza e a amizade são sempre mais fortes que a fúria e a força

sábado, 15 de setembro de 2018

Porque hoje é sábado



Caminho todas as tardes por estes quarteirões
desertos, é certo.
Mas nunca tenho certeza
Se estou percorrendo o quarteirão deserto
Ou algum deserto em mim.
(Manoel de Barros)

sábado, 1 de setembro de 2018

Porque hoje é sábado



Teu bom pensamento longínquo me emociona.
Tu, que apenas me leste,
acreditaste em mim, e me entendeste profundamente.
Isso me consola dos que me viram,
a quem mostrei toda a minha alma,
e continuaram ignorantes de tudo que sou,
como se nunca me tivessem encontrado.

(Cecília Meireles)