segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Coisas d'alma






Nós, que somos fortes, devemos suportar as fraquezas dos fracos e não agradar a nós mesmos.
Suportar, não meramente tolerar ou aguentar, mas sustentar com amor.
(Paulo de Tarso)

Luz da semana



O amor é o caminho que nos leva à esperança. 
E esta não é uma espécie de consolação, enquanto se esperam dias melhores. Nem é sobretudo expectativa do que virá. 
Esperar não significa projetar-se num futuro hipotético, mas saber colher o invisível no visível, o inaudível no audível, e por aí fora. Descobrir uma dimensão outra dentro e além desta realidade concreta que nos é dada como presente. Todos os nossos sentidos são implicados para acolher, com espanto e sobressalto, a promessa que vem, não apenas num tempo indefinido futuro, mas já hoje, a cada momento. 
A esperança mantém-nos vivos. Não nos permite viver macerados pelo desânimo, absorvidos pela desilusão, derrubados pelas forças da morte. 
Compreender que a esperança floresce no instante é experimentar o perfume do eterno.
(José Tolentino Mendonça)

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

A verdadeira linguagem da oração



A humildade oferece a todos, mesmo ao que se desespera na solidão, a relação mais forte com o semelhante, e, na realidade, imediatamente, mas, com certeza, só no caso da humildade completa e duradoura. Ela é capaz disso por ser ao mesmo tempo a verdadeira linguagem da oração e a mais sólida das ligações. A relação com o semelhante é a relação da prece; a relação consigo mesmo, a relação do esforço para alcançar algo; a energia para esse esforço é extraída da oração.
Podes conhecer outra coisa que não seja a fraude?

Fosse ela um dia obstruída, tu de modo nenhum poderias olhar para lá a não ser que quisesses transformar-te numa estátua de sal.
(Franz Kafka)

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Palavras



Não era de água a sua sede. Queria palavras. 
Não dessas de uso e abuso, mas palavras tenras como o capim depois da chuva. Essas de reacender crenças.
(Mia Couto)

Entre aspas



A cultura de paz está chegando pra ficar e levar a humanidade a um novo jeito de ser, de servir, de agir, de pensar e de falar. 
Um jeito macio e gentil, como a brisa do mar em noite de lua cheia a nos abençoar. 
Um jeito macio e gentil, como o da criança.
(Monja Coen)

Contando um conto



Uma velha senhora chinesa possuía dois grandes vasos, cada um suspenso na extremidade de uma vara que ela carregava nas costas.
Um dos vasos era rachado e o outro era perfeito.
Este último estava sempre cheio de água ao fim da longa caminhada da torrente até a casa, enquanto aquele rachado chegava meio vazio.
Por longo tempo a coisa foi em frente assim, com a senhora que chegava em casa com somente um vaso e meio de água.
Naturalmente o vaso perfeito era muito orgulhoso do próprio resultado e o pobre vaso rachado tinha vergonha do seu defeito, de conseguir fazer só a metade daquilo que deveria fazer.
Depois de dois anos, refletindo sobre a própria amarga derrota, falou com a senhora durante o caminho:
Tenho vergonha de mim mesmo, porque esta rachadura que eu tenho me faz perder metade da água durante o caminho até a sua casa...
A velhinha sorriu: Você reparou que lindas flores tem somente do teu lado do caminho? Eu sempre soube do teu defeito e, portanto plantei sementes de flores na beira da estrada do teu lado e todo dia, enquanto a gente voltava, tu as regavas.
Por dois anos pude recolher aquelas belíssimas flores para enfeitar a mesa.
Se tu não fosses como és, eu não teria tido aquelas maravilhas na minha casa.
Cada um de nós tem o próprio específico defeito.
Mas o defeito que cada um de nós tem é que faz com que nossa convivência seja interessante e gratificante.
É preciso aceitar cada um pelo que é e descobrir o que tem de bom nele.


quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

As dores do mundo



A compaixão é muito maior e mais nobre do que piedade.
Piedade tem suas raízes no medo e carrega um sentido de arrogância e condescendência, às vezes com um sentimento de "ainda bem que não é comigo." 
Como diz Stephen Levine: "Quando seu medo toca a dor de alguém, torna-se piedade; quando seu amor toca a dor de alguém, torna-se compaixão."
Treinar a compaixão é saber que todos os seres são iguais e sofrem de maneira similar, é honrar aqueles que sofrem e saber que você não está separado dos outros nem lhes é superior.
(Sogyal Rinpoche)

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Coisas d'alma



Eu tenho sido um buscador, e ainda sou, mas eu parei de perguntar aos livros e as estrelas. 
Eu comecei a ouvir os ensinamentos de minha própria alma.

(Rumi)

Me desculpe



Me desculpe o acaso por chamá-lo necessidade.
Me desculpe a necessidade se ainda assim me engano.
Que a felicidade não se ofenda por tomá-la como minha.
Que os mortos me perdoem por luzirem fracamente na memória.
Me desculpe o tempo pelo tanto de mundo ignorado por segundo.
Me desculpe o amor antigo por sentir o novo como primeiro.
Me perdoem, guerras distantes, por trazer flores para casa.
Me perdoem, feridas abertas, por espetar o dedo.
Me desculpem os que clamam das profundezas pelo disco de minuetos.
Me desculpe a gente nas estações pelo sono das cinco da manhã.
Sinto muito, esperança açulada, se às vezes me rio.
Sinto muito, desertos, se não lhes levo uma colher de água.
E você, falcão, há anos o mesmo, na mesma gaiola,
fitando sem movimento sempre o mesmo ponto,
me absolva, mesmo se você for um pássaro empalhado.
Me desculpe a árvore cortada pelas quatro pernas da mesa.
Me desculpem as grandes perguntas pelas respostas pequenas.
Verdade, não me dê excessiva atenção.
Seriedade, me mostre magnanimidade.
Ature, segredo do ser, se eu puxo os fios das suas vestes.
Não me acuse, alma, por tê-la raramente.
Me desculpe tudo, por não estar em toda parte.
Me desculpem todos, por não saber ser cada um e cada uma.
Sei que, enquanto viver, nada me justifica
já que barro o caminho para mim mesma.
Não me julgues má, fala, por tomar emprestado palavras patéticas,
e depois me esforçar para fazê-las parecer leves.
(Wislawa Szymborska)

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Pensamentos daqui e dali



O excesso de luz cega a vista.
O excesso de som ensurdece o ouvido.
Condimentos em demais estragam o gosto .
O ímpeto das paixões perturba o coração.
A cobiça do impossível destrói a ética.
Por isto, o sábio em sua alma
Determina a medida para cada coisa.
Todas as coisas visíveis lhe são apenas
setas que apontam para o Invisível.
Aquele que fica na ponta dos pés não tem firmeza
Aquele que abre as pernas demais não pode caminhar direito.
Aquele que se interpõe na luz não pode luzir. 
Aquele que se mostra não brilha.
Aquele que dá muito valor a si mesmo não é valorizado.
Aquele que é orgulhoso não possui a superioridade que pretende ter.
Aquele que se julga importante não é importante. Não merece importância.
Aquele que louva a si mesmo não é grande.
Tais atitudes são detestadas pelos poderes celestes.
Detesta-as também tudo, ó homem sapiente.
Quem tem consciência da sua dignidade, de ser veículo do Infinito, se abstém de tais atos.
Aquele que conhece os homens é inteligente.
Aquele que conhece a si mesmo é iluminado;
Aquele que vence os homens é forte.
Aquele que vence a si mesmo é realmente poderoso.
Aquele que está satisfeito com o que tem é rico.
Aquele que age com energia tem vontade firme.
Aquele que não falha nos requisitos da sua posição continua.
Aquele que morre e, todavia, não perece, atinge a imortalidade.
(Lao Tsé)

Luz da semana



A vida, por si só, já nos traz grandes doses de sofrimentos inevitáveis…
Por isso, tudo o que fizermos para evitar dores, humilhações, tristezas, para nós mesmos e para os outros, vai ser de grande ajuda.
Não precisamos ferir ninguém, não precisamos desejar o mal, não precisamos emitir nenhum pensamento ruim, não precisamos canalizar energias negativas, não precisamos ser arrogantes, não precisamos menosprezar, não precisamos reter os bons sentimentos, não precisamos ficar encarcerados no egoísmo, não precisamos …
Muito mais feliz é quem pode perceber o poder que tem de tornar a vida dos outros mais suave, simples assim.
Quem dera a gente pudesse acordar todo dia e ter consciência que somos iguais, somos finitos.
(Uti)

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Entre aspas





Não há idade e nunca é tão tarde para mergulhar em profundidades cada vez maiores, onde a vida calmamente revela seus segredos.
(Rainer Maria Rilke)

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Coisas d'alma








Aquilo que está escrito no coração não necessita de agendas porque a gente não esquece. 
O que a memória ama fica eterno.
(Rubem Alves)

Contando um conto



Era uma vez uma menina que tinha um pássaro encantado.
Ele era encantado por duas razões: não vivia em gaiolas, vivia solto e vinha quando queria, quando sentia saudade.
Sempre que voltava, suas penas tinham cores diferentes, as cores dos lugares por onde tinha voado.
Certa vez, voltou com penas imaculadamente brancas e contou histórias de montanhas cobertas de neve.
Outra vez, suas penas estavam vermelhas e contou histórias de desertos incendiados pelo sol.
Era grande a felicidade quando eles estavam juntos.
Mas, sempre chegava a hora do pássaro partir...
A menina chorava e implorava:
- Por favor, não vá. Terei saudades, vou chorar.
- Eu também terei saudades - dizia o pássaro - mas vou lhe contar um segredo! Eu só sou encantado por causa da saudade. É ela que faz com que minhas penas fiquem bonitas... senão você deixará de me amar.
E partiu.
A menina, sozinha, chorava.
Uma certa noite ela teve uma ideia: e se o pássaro não partir? Seremos felizes para sempre! Para ele ficar, basta que eu o prenda numa gaiola.
E assim o fez.
A menina comprou uma gaiola de prata, a mais linda que encontrou.
Quando o pássaro voltou, eles se abraçaram, ele contou histórias e adormeceu.
A menina aproveitou o seu sono e o engaiolou.
Quando o pássaro acordou deu um grito de dor.
- Ah ! O que você fez? Quebrou o encanto. Minhas penas ficarão feias e eu me esquecerei das histórias. Sem a saudade, o amor irá embora.
A menina não acreditou... achou que ele se acostumaria.
Mas, não foi isso o que aconteceu. Caíram as plumas e as penas transformaram-se em um cinzento triste.
Não era mais aquele o pássaro que ela tanto amava.
Até que ela não aguentou mais e abriu a porta da gaiola.
- Pode ir, pássaro - disse - volte quando você quiser...
- Obrigado - disse o pássaro - irei e voltarei quando ficar encantado de novo. Você sabe, ficarei encantado de novo quando a saudade voltar dentro de mim e dentro de você.
Quantas vezes aprisionamos a quem amamos, pensando que estamos fazendo o melhor?
Pense... deixar livre é uma forma singela de ter.
Direcione o seu amor não para a prisão e sim para a conquista, sempre.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Palavras



Todo querer se origina da necessidade, portanto, da carência, do sofrimento. A satisfação lhe põe um termo; mas para cada desejo satisfeito, dez permanecem irrealizados. 
Além disto, o desejo é duradouro, as exigências se prolongam ao infinito; a satisfação é curta e de medida escassa. O contentamento finito, inclusive, é somente aparente: o desejo satisfeito imediatamente dá lugar a um outro; aquele já é uma ilusão conhecida, este ainda não. Por isto, enquanto nossa consciência é preenchida pela nossa vontade, enquanto submetidos à pressão dos desejos, com duas esperanças e temores, enquanto somos sujeitos do querer, não possuiremos bem-estar nem repouso permanente. Caçar ou fugir, temer desgraças ou perseguir o prazer, é essencialmente a mesma coisa; a preocupação quanto a vontade sempre exigente, seja qual for a forma em que o faz, preenche e impulsiona constantemente a consciência; sem repouso porém não é possível nenhum bem-estar.
(Arthur Schopenhauer)

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Coisas d'alma



Tudo o que vive é pulsação do sagrado. As aves do céu, os lírios dos campos... Até o mais insignificante grilo, no seu cricri rítmico, é uma música do Grande Mistério.
É preciso esquecer os nomes de Deus que as religiões inventaram para encontrá-lo sem nome no assombro da vida.
(Rubem Alves)

Relaxe e divirta-se!



A paz que tanto procuramos não está na previsibilidade e na constância, e sim no reconhecimento de que ambas existem: nada é previsível nem constante. E isso enlouquece a maioria das pessoas.
Quer dizer que não temos poder nenhum? Pois é, nenhum. É um choque. Mas o segredo está em acostumar-se com a ideia. Só então é que se consegue relaxar e se divertir.
Ou seja, a pessoa de mente saudável é aquela que, sabedora da sua impotência contra as adversidades, não as camufla e sim as enfrenta, assume a dor que sente, sofre e se reconstrói, e assim ganha experiência para novos embates, sentindo-se protegida apenas pela consciência que tem de si mesma e do que a cerca o universo todo, incerto e mágico. 
Acho que é isso. Espero que seja isso, pois me parece perfeitamente curável, basta a coragem de se desarmar. 
O sujeito com a mente confusa é um cara assustado, que se algemou em suas próprias convicções e tenta, sem sucesso, se equilibrar em um pensamento único, sem se movimentar. Já o sadio baila sobre o precipício.
(Martha Medeiros)