quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Contando um conto



Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que, por admiração, se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. 
Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria e peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. 
Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque – a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras – e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. 
Como eles admiravam estarem juntos! 
Até que tudo se transformou em não. 
Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. 
Então a grande dança dos erros. 
O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. 
Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. 
Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. 
Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.
(Clarice Lispector)

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Coisas d'alma






A felicidade é sua natureza. 
Não é errado desejá-la. O que é errado é procurar fora quando ela está dentro.
(Buda)

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Contando um conto



Disse a anciã curandeira da alma:
Não doem as costas, doem as cargas. 
Não doem os olhos, dói a injustiça. 
Não dói a cabeça, doem os pensamentos. 
Não dói a garganta, dói o que não se expressa ou se exprime com raiva.
Não dói o estômago, dói o que a alma não digere. 

Não dói o fígado, dói a raiva contida. 
Não dói o coração, dói o amor. 
E é precisamente ele, o amor mesmo, quem contém o mais poderoso remédio.

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Coisas d'alma



E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente.
Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros.
Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram.
Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre.
(Miguel Sousa Tavares)

terça-feira, 22 de agosto de 2017

Palavras



Milhares de velas podem ser acesas com uma vela, e a vida dessa vela não será menor. 
A felicidade nunca diminui quando você a divide com outras pessoas.
(Sabedoria Budista)

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Luz da semana



O homem pode ser feliz, mais feliz que os pássaros, mais feliz que as árvores, mais feliz que as estrelas, porque o homem tem algo que nenhuma árvore, nenhum pássaro, nenhuma estrela tem.
O homem tem consciência.
Mas, quando você tem consciência, então duas alternativas são possíveis: ou você pode tornar-se infeliz, ou você pode tornar-se feliz.
A escolha é sua.
E algo aconteceu com essa liberdade. Alguma coisa está errada. O homem está, de uma certa maneira, de cabeça para baixo.
(Osho)


sábado, 19 de agosto de 2017

Porque hoje é sábado



Há outros dias que não têm chegado ainda,
que estão fazendo-se
como o pão ou as cadeiras ou o produto
das farmácias ou das oficinas
- há fábricas de dias que virão -
existem artesãos da alma
que levantam e pesam e preparam
certos dias amargos ou preciosos
que de repente chegam à porta
para premiar-nos
com uma laranja
ou assassinar-nos de imediato.

(Pablo Neruda)

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Entre aspas



A imagem das coisas tem muito a ver com a pessoa que somos, com o olhar que temos, com a sensibilidade que transportamos dentro de nós.
(José Saramago)

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Pensamentos daqui e dali



Quando me viam, parado e recatado, no meu invisível recanto, eu não estava pasmado. 
Estava desempenhado , de alma e corpo ocupados: tecia os delicados fios com que se fabrica a quietude. Eu era um afinador de silêncios.
(Mia Couto)

Contando um conto



Um Mestre budista viajava a pé com seus discípulos, quando reparou que discutiam entre si quem era o maior entre eles.
Pratico meditação há quinze anos - dizia um.
Faço caridade desde que saí da casa de meus pais - dizia outro.
Sempre segui os ensinamentos de Buda - dizia um terceiro.
Ao meio-dia pararam à sombra de uma macieira para descansar. Os galhos estavam carregados e vergavam até o chão com o peso das frutas.
Então, quando todos se calaram, o Mestre falou:
Vejam, meus discípulos, quando uma árvore está carregada de frutos, seus ramos se abaixam e tocam o chão. 
Desta maneira, o verdadeiro sábio é aquele que é humilde. 
Quando uma árvore não tem frutos, seus ramos são arrogantes e altivos. 
Desta maneira, o tolo sempre se crê maior que seu próximo.

terça-feira, 15 de agosto de 2017

Palavras







O que muda a gente
não é o que a gente fala
é o que a gente cala.

(Mario Quintana)

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Luz da semana




Todos os dias, tudo que precisamos é recarregar nossa bateria espiritual, caso contrário a luz da consciência fica fraca, os pensamentos ficam vagos, e as decisões são permeadas por dúvida. 
O poder está disponível dentro e fora. Dentro há luz radiante e pura. 
Isto é o que somos. 
No entanto, agora, isto está bloqueado por nossos apegos, crenças e percepções aprendidas. Mas fora de nós existe  a fonte. Ela é invisível aos olhos, mas está apenas a um segundo de distância de nós, quando conseguimos acalmar e concentrar a mente.   
A meditação nos conecta com ambas as fontes de energia. Ela é o caminho para acessar as vitaminas e os minerais que o espírito almeja: a vitamina do amor puro e os minerais de verdade e sabedoria.
 (Mike George)

sábado, 12 de agosto de 2017

Porque hoje é sábado






Pai, professor, amigo,
abençoadas as lembranças, que me permitem te encontrar toda vez que a saudade não encontra lugar.
 (Uti)


sexta-feira, 11 de agosto de 2017

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Contando um conto



Por mais de trinta anos um mendigo ficou sentado no mesmo lugar, debaixo de uma marquise. Até que um dia, uma conversa com um estranho mudou sua vida:
Tem um trocadinho aí pra mim, moço? – murmurou, estendendo mecanicamente seu velho boné.
Não, não tenho – disse o estranho. – O que tem nesse baú debaixo de você?
Nada, isso aqui é só uma caixa velha. Já nem sei há quanto tempo sento em cima dela.
Nunca olhou o que tem dentro? – perguntou o estranho.
Não – respondeu. – Para quê? Não tem nada aqui, não!
Dá uma olhada dentro – insistiu o estranho, antes de ir embora.
O mendigo resolveu abrir a caixa. Teve que fazer força para levantar a tampa e mal conseguiu acreditar ao ver que o velho caixote estava cheio de ouro.

Eu sou o estranho sem nada para dar, que está lhe dizendo para olhar para dentro. Não de uma caixa, mas sim de você mesmo. Imagino que você esteja pensando indignado: Mas eu não sou um mendigo!
Infelizmente, todos que ainda não encontraram a verdadeira riqueza – a radiante alegria do Ser e uma paz: inabalável – são mendigos, mesmo que possuam bens e riqueza material. Buscam, do lado de fora, migalhas de prazer, aprovação, segurança ou amor, embora tenham um tesouro guardado dentro de si, que não só contém tudo isso, como é infinitamente maior do que qualquer coisa oferecida pelo mundo.

(Trecho retirado do livro O Poder do Agora, Eckhat Tolle)

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Coisas d'alma



Dia após dia, desde o início dos tempos, a luz renasce a cada manhã. 
Os primeiros clarões da alvorada se infiltram nos jardins de flores, espalhando no coração dos botões recém-nascidos uma mensagem de esperança: Você ainda o ignora, mas logo suas pétalas se abrirão, seu perfume se difundirá e também você se revelará em toda a sua beleza.
(Rabindranath Tagore)

terça-feira, 8 de agosto de 2017

Palavras



[…] A esperança é de que, distantes da pantomima do poder, os sonhos não tenham morrido. Como na história da Bela Adormecida, eles dormem, mais profundos que pesadelos do cotidiano. E um dia acordarão. 
E o povo, possuído pela sua beleza esquecida, se transformará em guerreiro e se dedicará à única tarefa que vale a pena, que é a de transformar os sonhos em realidade. 
Esta é a única política que me fascina.

(Rubem Alves)

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Luz da semana



Todas as vezes que você perdoa, o universo muda; cada vez que estende a mão e toca um coração ou uma vida, o mundo se transforma, a cada gentileza e serviço, visto ou não visto, os propósitos de Deus são realizados e nada jamais será igual.
(do livro A Cabana)

sábado, 5 de agosto de 2017

Porque hoje é sábado

Não existo.
Começo a conhecer-me.
Não existo.
Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram,
ou metade desse intervalo, porque também há vida ...
Sou isso, enfim ...
Apague a luz, feche a porta e deixe de ter barulhos de chinelos no corredor.
Fique eu no quarto só com o grande sossego de mim mesmo.
É um universo barato.

(Álvaro de Campos)

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Entre aspas



O eixo da calmaria é o teu coração. É aí que Deus vive dentro de ti. 
Portanto, para de procurar respostas no mundo. Limita-te a regressar a esse centro e aí encontrarás a paz.
(Elizabeth Gilbert)

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Contando um conto



Ouvi uma antiga parábola - deve ser muito antiga, porque naquela época Deus costumava morar na Terra...
Um dia um velho fazendeiro veio a Deus e disse: Olha, você pode ser Deus e ter criado o mundo, mas preciso lhe dizer uma coisa: você não é fazendeiro, e não sabe nem o abc da agricultura. Você tem muito o que aprender.
Deus disse: O que você sugere?
O fazendeiro respondeu: Dê-me um ano e permita que as coisas sejam de acordo comigo, e veja o que acontece. Não haverá mais pobreza!
Deus concordou, e um ano foi dado ao fazendeiro. Naturalmente ele pediu o melhor, pensava somente no melhor - nada de trovões, nada de ventos fortes, nenhum perigo para a safra.Tudo confortável e aconchegante, e ele estava muito feliz. O milho estava crescendo tanto!
Quando queria sol, havia sol, quando queria chuva, havia chuva, o quanto quisesse. Nesse ano, tudo estava certo, matematicamente certo. O trigo crescendo tanto...
O fazendeiro ia a Deus e dizia: Olhe! Dessa vez a safra será tão grande, que por dez anos, mesmo que as pessoas não trabalhem, haverá comida suficiente!
Mas quando fizeram a colheita, não havia grãos. O fazendeiro ficou surpreso.
Ele perguntou a Deus: O que aconteceu, o que saiu errado?
Deus disse: Por não existir nenhum desafio, nenhum conflito, nenhuma fricção, já que você evitou tudo de ruim, o trigo permaneceu impotente. Uma pequena fricção é uma necessidade. As tempestades são necessárias, os trovões e os raios são necessários. Eles agitam a alma dentro do trigo!

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Coisas d'alma



Para que a existência valha à pena […] questionar o que nos é imposto, sem rebeldias insensatas mas sem demasiada sensatez. Saborear o bom, mas aqui e ali enfrentar o ruim. Suportar sem se submeter, aceitar sem se humilhar, entregar-se sem renunciar a si mesmo e à possível dignidade. Sonhar, porque se desistimos disso apaga-se a última claridade e nada mais valerá a pena. Escapar, na liberdade do pensamento, desse espírito de manada que trabalha obstinadamente para nos enquadrar, seja lá no que for.
E que o mínimo que a gente faça seja, a cada momento, o melhor que afinal se conseguiu fazer.
(Lya Luft)

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Palavras



Aquilo que foi é o que virá a ser, e o que se tem feito é o que se fará; de modo que não há nada de novo sob o sol.
(Eclesiastes 1:9)