quinta-feira, 13 de abril de 2017

Contando um conto



O roceiro sentou à sua porta num anoitecer de setembro, depois de um dia de dura faina, a mente ainda às voltas com o trabalho. Depois de tomar banho, sentou-se pra recrear e recriar seu homem intelectual. 
Era uma noite bastante fria, e alguns vizinhos previam uma geada. 
Pouco depois de se entregar ao fio de seus pensamentos, ele ouviu alguém tocando uma flauta, e aquele som se harmonizava com seu estado de espírito. 
Ainda pensava no trabalho; mas o que lhe pesava era que, embora esse pensamento continuasse a lhe girar na mente e ele se visse planejando e programando contra sua vontade, ainda assim aquilo pouco lhe interessava. 
Era apenas a descamação de sua pele, que estava se soltando continuamente. 
Mas as notas da flauta lhe chegavam aos ouvidos vindas de uma outra esfera, diferente de onde ele trabalhava e sugeriam trabalho para certas faculdades adormecidas dentro dele.

(Henry David Thoreau)

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