terça-feira, 24 de julho de 2012

Cartas de amor para mim mesmo


XVIII. A procura

Este é o sentimento de quem procura: procuramos por nós mesmos.
E nunca nos encontraremos porque não há nada para procurar nem nada para encontrar.
Tudo já existe, porque nunca nos abandonamos a nós mesmos, apenas criamos a ilusão de que o fizemos.
E isso é apenas uma ilusão e nada mais.
Apenas uma ilusão, um véu de névoas e sombras que desaparece com a luz, porque não resiste à luz.
O medo que o ego tem da luz é o mesmo medo que ele tem de viver nas trevas e, no entanto não sabe que aí vive porque fez desse mundo o seu mundo.
O ego tem medo da luminosidade que é lançada sobre ele com estas palavras de luz e tende a considerá-las como desprezíveis e sem importância, porque simplesmente o ameaçam, ameaçam a sua supremacia, domínio e superioridade sobre o nosso corpo, sentimentos e pensamentos.
Ele quer ser rei e senhor e algo como estes pensamentos e palavras o afetam.
Como poderá ele subsistir e viver se acreditamos que toda a força existe em nós?
Como poderá ele subsistir sem guerras, conflitos e batalhas, tanto internas como externas?
O ego vive da oposição e da dualidade, é isso que lhe dá vida e que lhe dá força e são os seus impulsos motivadores e a força geradora da sua energia e da sua vitalidade.
Se nós lhe retiramos essa força, então o ego acaba por perder energia e sentido de viver.
Há momentos em que alguns egos nos levam mesmo para baixo, digo alguns, porque realmente eles são plurais, a separação Daquilo que Sou Eu Mesmo produziu um ego que assume o controlo, mas este ramifica-se em muitos.
São os muitos eus, as muitas vontades, os muitos pensamentos e sentimentos que habitam em nós, e cada um deles em determinado momento quer assumir a supremacia por uma parte de nós, seja pelo coração, pelo pensamento ou pela ação.
Aí é que eles são descobertos, porque podemos saber e sentir em nós que eles lutam entre eles mesmos pelo domínio e nunca estão em paz, estão sempre em conflito constante, por isso, por esse sabor, os reconhecemos, e podemos exterminá-los de nós mesmos.
Essa é uma deixa e uma forma de reconhecermos o ego, pelo conflito interno que eles deixam.
Nós mesmos, aquilo que forma a nossa verdadeira realidade, Deus em nós, jamais está em conflito, como podemos estar em conflito com nós mesmos?

Como podemos estar em conflito com o que somos, se nós somos tudo o que somos?
Nós, no Estado de Presença constante avistamos pensamentos em nós dos quais nos deveríamos, muitas vezes, rir e achar-lhes piada, porque não passam de ilusões e mete-medos, esses pensamentos são tão verdadeiros como o futuro que nos espera, ou seja, não existem.
Esses pensamentos que temos, quando vemos tudo e todos com a nossa mente egóica, são ilusões, e, por isso, muito do mundo que nós vemos é uma ilusão.
Um mundo criado pelos nossos pensamentos, uma esfera de pensamentos e emoções errados, ações alvo da manipulação de nós mesmos pelo nosso ego, que acreditamos ser a nossa verdadeira realidade, sem a percepção de estarmos identificados com ele.
Chegou o momento de decidirmos e sabermos que esse ego não somos nós mesmos, que o criamos e que é ilusório.
Isso leva-nos a concluir que todo o nosso mundo é ilusório e por isso não lhe devemos dar tanta importância.
Não devemos dar tanta importância aos nossos pensamentos, às nossas emoções e às nossas ações, quando neles existe conflito, quando neles existe preocupação, quando neles existe tristeza e desarmonia, quando neles existe sofrimento, porque agora sabemos que não são verdadeiros e não são verdadeiramente nossos, não são parte do que nós realmente somos e são invenção de uma entidade que, ela própria é ilusória e falsa, mas que sempre acreditamos sermos nós mesmos.
Podemos ouvir o nosso coração em todos os segundos da nossa vida e ele é a porta aberta para o interior de quem nós realmente somos.
Deus é amor e no nosso interior habita Deus e é lá que nós podemos encontrar o amor.
Nós temos forma e movemo-nos através da nossa forma, mas a nossa manifestação na forma não tem forma.
A nossa manifestação no espaço, não tem espaço.
A nossa manifestação no tempo, não tem tempo.
O que nós mesmos somos, a nossa verdadeira identidade, não possui identidade.
Não tem nome. Não tem cor, cheiro ou sabor.
O que nós realmente somos não gosta ou desgosta, não vê o mau nem o bom, não concebe o amigo ou o inimigo, não procura dar nem receber amor…
A nossa verdadeira realidade é o que é, é o que existe, é o que sempre existiu, é o que sempre existirá.

 (Um Tratado Completo de Liberdade – Joma Sipe)

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