quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Sentido da vida



Seja qual for o nome que nos damos, sejam quais forem as roupas que vistamos, seja qual for o padre que nos dê a unção, seja qual for a quantidade de nossos milhões, seja qual for o número de sentinelas a postos em nosso caminho, seja qual for o número dos policiais encarregados de proteger nossa riqueza, seja qual for o número dos supostos malfeitores, revolucionários ou anarquistas que condenamos à morte, sejam quais forem nossos gestos, seja qual for o estado que fundamos, as fortalezas e as torres que erguemos, da torre de Babel à torre Eiffel — duas condições inevitáveis estão sempre a nossa frente e eliminam por completo o sentido da vida: primeiro, a morte, que pode nos atingir a qualquer instante; segundo, a fragilidade de todas nossas obras que desaparecem depressa demais e sem deixar rastro algum.
Façamos o que fizermos: quer ergamos palácios e monumentos, quer escrevamos poemas e cantos, nada disso dura por muito tempo, tudo passa sem deixar vestígio algum.
Por isso, embora o escondamos cuidadosamente de nós mesmos, podemos ver que o sentido de nossa vida não pode residir nem em nossa existência material, sujeita a sofrimentos inevitáveis e à morte, nem em qualquer instituição ou ordem social. 
Quem quer que sejas tu que lês estas linhas, pensa na tua situação e em teus deveres, não em tua situação de proprietário, de negociante, de juiz, de rei, de presidente, de ministro, de padre, de soldado, que te dão provisoriamente os homens, e não nos deveres imaginários que essa situação te cria, mas na situação verdadeira, eterna, do ser que, por vontade de Alguém, após toda uma eternidade de não-existência, saiu da inconsciência, e que pode a qualquer instante, pela mesma vontade, a ela retornar; e pensa em teus verdadeiros deveres que resultam de tua verdadeira situação de ser chamado à vida e dotado de inteligência e de amor.
(Leon Tolstói)

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