sexta-feira, 15 de abril de 2011

Conjugando a vida


Que a vida ensine a cada menino a seguir o cristal que leva dentro, sua bússola existencial não revelada, sua percepção não verbalizável das coisas, sua capacidade de prosseguir com o que lhe é peculiar e próprio, por mais que pareçam úteis e eficazes as coisas que a ele, no fundo, não soam como tais, embora façam aparente sentido e se apresentem tão sedutoras quanto enganosas.
Que a vida nos ensine, a todos, a nunca dizer as verdades na hora da raiva.
Que desta aproveitemos apenas a forma direta e lúcida pela qual as verdades se/nos revelam por seu intermédio; mas para dizê-las depois. 
Que a vida ensine que tão ou mais difícil do que ter razão, é saber tê-la.
Que aquele garoto que não come, coma.
Que aquele que mata, não mate. 
Que aquela timidez do pobre passe.
Que a moça esforçada se forme. 
Que o jovem jovie.
Que o velho velhe. 
Que a moça moce. 
Que a luz luza. 
Que a paz paze.
Que o som soe. 
Que a mãe manhe.
Que o pai paie. 
Que o sol sole.
Que o filho filhe.
Que a árvore arvore.
Que o ninho aninhe.
Que o mar mare. 
Que a cor core.
 Que o abraço abrace. 
Que o perdão perdoe.
Que tudo vire verbo e verbe. 
Verde. Como a esperança. 
Pois, do jeito que o mundo vai, dá vontade de apagar e começar tudo de novo. 
A vida é substantiva, nós é que somos adjetivos.
(Artur da Távola)

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