terça-feira, 22 de maio de 2012

Cartas de amor para mim mesmo


IX. O Perdão Vive Em Nós

O perdão vive em nós e por nós é demonstrado a todos os que conosco crêem que é possível demonstrar Deus e que Deus habita em nós.
Pelo perdão abençoamos todo o nosso dia e todos aqueles que conosco convivem, que fazem de nós um ser que com eles habita e que eles procuram para serem felizes.
Pelo nosso perdão nós abençoamos tudo o que vemos e o nosso mundo reflete tudo o que nós fazemos e tudo o que manifestamos.
Da nossa boca somente palavras de perdão são proferidas e a compaixão permite-nos sermos aqueles que somos e Deus é manifestado nas nossas mãos e nas nossas palavras e no nosso pensamento só ouvimos a sua voz e a transmitimos ao mundo.
O perdão é completamente curativo, é uma técnica simples, mas tornamo-la complicada quando colocamos a mente e quando o ego toma conta do nosso sistema de pensamento e de sentimento.
Pelo perdão conseguimos curar as mais variadas doenças e os mais complicados problemas.
É incrível o poder do perdão e o que ele consegue fazer das nossas vidas.
Pelo perdão, através apenas do perdão conseguimos atingir o estado de paz interior, o estado de calma e serenidade dentro dos nossos seres.
É através do perdoar completamente, sem subterfúgios, sem limitações nem evasivas, que conseguimos, ter um vislumbre e uma manutenção da verdadeira felicidade e de um coração livre de todos os preconceitos, limitações e problemas.
Que mais se poderia desejar do que um coração sereno e em paz?
O perdão pode oferecer-nos essa felicidade.
Ao perdoar estamos a aceitar, estamos a deixar o caudal da vida fluir e ser como é.
Ao não perdoar estamos a resistir, a negar o que é como é, estamos a guardar nos nossos corações rancores e maledicências, estamos a formular dentro de nós mesmos a nossa própria prisão, da qual não podemos sair enquanto não perdoarmos.
O ato de não perdoar é um ato de aprisionamento, feito por nós mesmos. Nessa prisão, ao ser construída por nós, apenas poderá haver liberdade se nós a concedermos a nós mesmos, só nós nos poderemos libertar a nós mesmos, pois somos nós mesmos que criamos a nossa própria prisão. O não perdoar cria prisões e nós estamos por detrás das grades e aprisionados muitas vezes dentro de nós mesmos, prisões dentro de prisões, calabouços dentro de calabouços, criados por nós mesmos para nós mesmos.
O ato de perdoar é um ato de libertação. No perdão há toda a liberdade que possamos desejar.
Quando não perdoamos mantemo-nos aprisionados aquilo que não nos deixa ser livre, e, no entanto, almejamos a liberdade, mas não sabemos como consegui-la, o perdão é muitas vezes a chave, pois o perdão trás aceitação do que é, e com isso a liberdade.
O que acontece é que muitas vezes pensamos que desejamos ser livres quando, na verdade, não é isso realmente que queremos, mas sim mantermo-nos atados e aprisionados neste ou naquele conceito acerca de determinada pessoa ou de determinado acontecimento.
Acreditamos que se alguém nos fez mal, essa pessoa jamais poderá ser perdoada. Se alguém nos atacou jamais poderá ser perdoado. Que alguém que nos fez sofrer tanto jamais poderá alcançar o nosso perdão. E é nesse jamais que reside toda a nossa infelicidade. Essa pessoa foi apenas o motor que despertou o nosso verdadeiro sofrimento interior.
Jamais alguém nos faz sofrer, jamais acontecimento algum nos faz sofrer.
A compreensão profunda destas afirmações e a verificação prática das mesmas é o despertar dos iluminados.
Somos nós mesmos que nos fazemos sofrer, com os nossos pensamentos da outra pessoa ou acontecimento e de nós mesmos em relação a essa pessoa ou acontecimento. Não é a pessoa ou o acontecimento que nos fazem sofrer mas sim os nossos pensamentos acerca disso.
É aqui que o perdão é necessário.
Uma porta aberta ao perdão traz-nos essa compreensão.
Conseguimos ver, ao perdoar, que fomos nós mesmos que nos magoamos a nós mesmos e não a outra pessoa.
Ao não perdoar, apenas vemos a outra pessoa ou acontecimento como a causa do nosso sofrimento.
A falta de perdão não trás compreensão, mas sim grades (pensamentos acerca de) com os quais nos aprisionamos.
Depois há o perdão falso e o perdão total. Através do falso perdão pensamos que perdoamos, mas, em última análise, a prisão mantém-se. Por vezes perdoamos a alguém, mas não nos perdoamos a nós mesmos por termos perdoado essa mesma pessoa, e aí o enredo continua.
Isso muitas vezes acontece, e aí, conseguimos libertar-nos das grades que nos mantinham aprisionados em relação a determinada pessoa, mas aprisionamo-nos de novo, de forma mais complexa, dentro de nós mesmos, ao não possibilitar a aceitação de que o perdoar a outra pessoa foi a melhor atitude que poderíamos ter feito.
Esta é uma manobra do ego, transferindo a mesma prisão de uma ilusão para outra, mudando o objeto em relação ao qual nos mantemos aprisionados.
Ao perdoar alguém pelo sofrimento ilusório que nos causou e a não nos perdoarmos a nós mesmos, estamos a criar uma ilusão de perdão, estamos a criar uma ilusão de nós mesmos, de pessoas boas e compreensivas, que perdoam, mas dentro de nós esse não perdoar continua, porque não conseguimos conceber como fomos capazes de perdoar a uma pessoa que nos magoou tanto.
E aí não nos perdoamos a nós mesmos.
O perdão tem de ser total.Tanto para os outros, como para nós mesmos.
E não pode haver uma sobra de ressentimento ou rancor, tanto em relação aos outros como em relação a nós mesmos.
Se perdoamos no exterior, há que verificar se também nós fomos perdoados, se também nos perdoamos a nós mesmos por termos concedido o perdão, por termos acedido ao gesto de perdoar.
(Um Tratado Completo de Liberdade – Joma Sipe)

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